segunda-feira, 12 de julho de 2010

Ausente, em sua vida também


Existe ela que está tentando crescer, mesmo de repente percebendo, que crescer, afinal, é uma droga. Tem alguém rodeando seus pensamentos, e no fundo ela sabe, que a verdade está estampada no espelho do banheiro, logo pela manhã, quando ela acaba de passar a água fria sobre o rosto.
Fugir dessa verdade faz com que tudo fique menos sofrido, faz com que o céu cinzento lá fora, fique decorado com as luzes dos altos prédios à noite.
É nessas horas vagas, nesses dias de folga, que ela pára e pensa no rumo que sua vida está levando, na bagunça que ela se tornou. Vida contraditória e engraçada às vezes.
A identidade é algo difícil e doloroso de se encontrar e assumir.
Se poupava de lembrar dela quando havia várias coisas a se fazer, quando havia alguma coisa pra se preocupar.
Que fosse o clima, a poupança, a notinha da loja de calçados.
E então quando não houve isso, quando tudo não está corrido...
Ela se lembra do seu cachorro que morreu, se revoltando com o abandono dele, e se culpando por ter o abandonado antes.
É assim que ela sabe que os travesseiros não são mais suficientes.
Está precisando daquelas duas pernas que vem com carinho nos cabelos de brinde.
Aquele colo de santa que suporta todas as lágrimas do mundo.
Depois por um relapso, sente que o tempo passou, que não cultivou certas amizades e que não regou seus relacionamentos.
E a família inteira anda sumida. Ela está a sua espera quando se recorda dela.
Acha difícil agradar a todos, ser presente em tantas vidas.
Agora, ausente, em sua vida também.
Assim como sentia falta dela mesma, viu como fazia falta para seu pai.
Que foi ele quem deu tudo que a pertencia, até sua luz interior.
É nessas horas que ela grita por dentro sem poder ser ouvida.
Na beira do precipício que quem nos ama nos puxam contra.
Tem sido um longo tempo sozinha, talvez seja hora de voltar.
O sol ainda brilha em cima de sua cabeça, sentiu isso.
Ela sabe das coisas, das decisões tomadas, das perdas, e do que ainda pode ser.
Enfim, olhou para o horizonte, e quis provar os poderes dos anjos, e usar as asas que tanto diziam que tinha.
Ainda tinha o que recuperar,
o que buscar.
Ela não estava perdida, desencontrada talvez.
Porque descobriu que estavam todos lá, guardados numa gaveta bem alta de um armário bambo.
Havia pegado os vários momentos em que riu, vivenciados em fotografias, amareladas de tão velha.
Era hora de vivê-los de novo. E foi.

2 comentários:

  1. Eu também gostei muito do teu blog e vou seguir sempre que puder:))
    Um beijooooo:)

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