sábado, 22 de janeiro de 2011

Que esta palavra seria uma profecia


“Dilacerante. Foi essa a primeira palavra que eu disse para ele. Eu disse para ele? Ou eu disse e ele ouviu e depois eu perguntei, tempos depois, o que ele havia visto em mim, na primeira vez. Ele disse algo assim, alguém havia dito alguma coisa naquela festa e você balbuciou: dilacerante. O que você viu em mim? Perguntei novamente. Alguém que precisava ser olhada, para além do seu rosto. Foi exatamente isso que ele disse? Não lembro exatamente, deve ter sido. Pode ser uma invenção minha, quem sabe. Preciso inventar novos diálogos, que se sobreponham aos antigos, já corroídos pela traça do esquecimento. Dilacerante. Mal sabia, naquela época, que esta palavra seria uma profecia auto-realizadora para mim, que aquele garoto-homem iria ser tão dilacerante na minha história... [...]"

(Do moleskine de Luísa. Sem data – Cadernos de Luísa, Vanessa Souza Moraes)

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