quinta-feira, 20 de maio de 2010

O valor de tudo


Cansado de andar pelo mesmo caminho. Aquele mesmo, onde eu sabia exatamente o espaço que as árvores se distanciavam uma da outra. Daquele que o aroma do café chegava e junto com ele no fundo da varanda aquelas mãos enrugadas, com aliança de ouro do falecido amado, me acenava pesada e cansada. Afinal, era fim de tarde, e para ela, o sol ao ir embora, fazia chegar o sono.
Nada de surpreendente, tudo ali era previsível. A não ser a terra no chão, que as vezes estava molhada pela chuva, ou algum matinho que cresceu hoje e ontem não estava.
Minha vida num livro pintado com a predominância do verde.
Lugarzinho calmo, bom de se viver.
Mas, até o que é bom - se repetido e demasiado - cansa.
Os planos era morrer ali. Onde nasci. Onde sempre estive.
Mas, o meu garoto foi o primeiro a sair... (- Pai, vou voltar rico pra buscar você e a mãe!).
O que era riqueza pra mim, nada era pra ele. Ele não se importava com o som dos passarinhos pela manhã e não via a lua preenchendo todo o quadrado da janela a noite. Ele não via que ali não tinha fumaça, que a água era fresca, que era bom dormir cedo.
Meu garoto se foi.
Eu compreendi, até feliz fiquei. Ele havia crescido, estava andando com as próprias pernas e não precisava mais de mim. Nem as vezes precisava, como eu queria que fosse. Ele não esqueceu do velho pai, ele apenas não pode voltar.
Eu tinha minha companheira, ele havia de encontrar a dele.
Ela e eu vivemos aqui, felizes, muitos anos depois. A rotina de repente cansava, mas havia sempre algo novo em nossas conversas. A cadeira ficou velha e agora fazia barulho.
Ela se foi também. Mas, o que me conforta é que eu sempre soube que ela queria ficar.
Onde quer que ela esteja, sabia eu, que ao meu lado ela sempre quis estar.
A casa sem ela, sem ele, ficou vazia. Mesmo com todos os móveis que eu mesmo fiz. Mesmo com o papagaio lá no fundo gritando, enchendo tudo de som.
Eu pintei as paredes, está tudo novo, mesmo não tendo como me "pintar" de novo.
Foi por isso que cansei. Que a hora de ir embora havia chegado.
Peguei uma troca de roupa, um galão d'água. Saí de caminhada, não tenho pressa.
Não quero chegar. Não é vontade de recomeçar. É que quando olho tudo igual em volta, dá impressão que o tempo não passa. E eu quero que ele passe. Já que nessa vida, o que eu amava, já não tenho mais. No final, só as pessoas valem tanto. O afeto que você dá e recebe. O campo, minha casa, meus animais, meus vizinhos, me valiam. Mas, agora os deixo.
Era minha família, que eu jamais deixaria.


(Stand by me - Andy, Jon Bon Jovi, Richie Sambora & Friends)

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