terça-feira, 15 de junho de 2010

Ruy


'Quantas vezes eu te olhei e te vi feliz. Muitas vezes te vi e pensei sobre ser segura de si mesmo, de não me importar, de odiar a todos, de viver meu mundo, de não me abalar, não me deixar afetar.
Eu queria ser igual a você.
Algumas vezes te vi relapso, e pensei ver alguém vivendo um outro mundo do qual eu não conhecia..do qual eu nunca me fiz saber.
Uma barreira. Você, tão diferente, e talvez tão imiscível.
Me provou que nada é o que parece ser.
Da onde vinha aquela voz suave, as palavras doces, de alguém tão nem aí, tão egoísta a princípio.
E de onde você tirou aquele grande sorriso largo dado de presente pra alguém que você nem sabia se lhe queria bem.
Seu coração de portas abertas pra quem quer que fosse.
Conheci suas empolgações, seus medos, suas nêuras.
E depois percebi, aquela segurança era uma máscara. Talvez uma proteção.
Vi o quanto há de mim em você. Do quanto você precisa do amor, e o quanto eu preciso de você.
Não podia acreditar que você, com todas as suas cores e gritos, ora ficava triste.
Quase sempre tão desiludido...Porque você nunca soube, o quão adorável você é.
E aquela pessoa insensível sumiu quando me acolheu, mesmo eu ensopando sua blusa...
Mesmo eu te passando minha doença.
Aquela pessoa de vidas passadas, da vida de agora, e de outras vidas que virão.
Porque não veio antes?
Minha vida precisava das suas frases, dos seus livros, das suas músicas, dos seus amores.
Minha vida sempre quis alguém assim.
Você apareceu do nada e me provou que você não era bonito só por fora.
Me mostrou um outro alguém. Alguém totalmente diferente do que eu via, do que eu não tocava, do que eu julgava, de longe.
O que dizer sobre você se as palavras bonitas foi você quem inventou?
Eu só quero, eu só espero, que você nunca me esqueça, nunca me deixe.
Temos planos e sonhos. Amores e desamores. Nossa liberdade nos consome.
E passaremos pelo que for juntos. Porque eu não me vejo sem você. E seria tão clichê terminar dizendo que eu te amo.
Eu sei que você já sabe.
Que eu jamais poderia, sorrir sem seus dentes, amar sem seus braços.'


(Song:The Scientist - Coldplay)

3 comentários:

  1. O conhecer-se no próximo é fundamental. Estranha é essa nossa ignonímia: procurar-se nos outros para satisfazer a si mesmo. E, quando nos encontramos com o alheio, o alheio que serve, entregamo-nos de maneira como fazemos quando nos escontramos, quando descobrimo-nos mais fortes, quando descobrimo-nos capazes. O amor é mais do que um sentimento pelo alheio, é mais do que um descobrir-se no outro, é conhecer-se no espelho do alheio. É ter-se existindo na vida alheia, saber-se lá, saber-se satisfazer e também desagradar-se. Por que desagradar-se? O amor é muito mais do que somente rosas, espinhos possivelmente também. É o oxímoro da vida-morte.

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  2. meldels. que amor. um doce esse texto. tudibom.

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  3. Quase sempre tão desiludido...Porque você nunca soube, o quão adorável você é.

    Foram precisos muitos acasos, muitas coincidências surpreendentes ( e talvez muitas procuras), para que eu encontre a imagem que, entre mil, convém ao meu desejo. Eis um grande enigma do qual nunca terei a solução: por que desejo Esse? Por que o desejo por tanto tempo, languidamente? É ele inteiro que desejo (uma silhueta, uma forma, uma aparência)? Ou é apenas uma parte desse corpo? E nesse caso, o que, nesse corpo amado, tem tendência de fetiche em mim? Que porção, talvez incrivelmente pequena, que acidente? O corte de uma unha, um dente um pouquinho quebrado obliquamente, uma mecha, uma maneira de fumar afastando os dedos para falar? De todos esses relevos do corpo tenho vontade de dizer que são adoráveis. Adorável quer dizer: este é meu desejo, tanto que único: "É isso! É exatamente isso (que amo)!" No entanto, quanto mais experimento a especialidade do meu desejo, menos posso nomeá-la; à precisão do alvo corresponde um estremecimento do nome; o próprio do desejo não pode produzir senão um impróprio do enunciado: Deste fracasso da linguagem, só resta um vestígio: a palavra "adorável" (a boa tradução de "adorável" seria o ipse latino: é ele, é ele mesmo em pessoa).

    (Roland Barthes - "Fragmentos de um Discurso Amoroso" )

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